Psíquicos treinados como espiões, milhões de dólares investidos em “visão remota” e documentos secretos: o Projeto Stargate foi o programa da CIA que desafiou a ciência para explorar o invisível. Por 23 anos, a agência testou se a mente humana podia acessar locais inimigos sem sair do laboratório — e arquivos liberados revelam descrições de bases nucleares, embaixadas e até planetas distantes. Mas por que, apesar dos supostos acertos, o governo enterrou a iniciativa? A resposta está nos relatórios que expõem o limite entre o extraordinário e a dura realidade da inteligência.
1. Introdução — contexto histórico e objetivo
No auge da Guerra Fria, relatos da CIA sobre experimentos soviéticos com o Projeto LIDA — que explorava o uso de ondas de frequência extremamente baixa (ELF) para influenciar a mente humana — motivaram os EUA a iniciar pesquisas secretas em parapsicologia. Em resposta, em 1972, a CIA destinou US$ 50.000 (equivalente a US$ 320.000 em valores atuais) ao Projeto SCANATE (Scanning by Coordinate), conduzido em parceria com o Stanford Research Institute (SRI) na Califórnia. Essa iniciativa pioneira deu origem ao que posteriormente seria batizado de Projeto Stargate, cujo objetivo declarado era “investigar o potencial da percepção extrassensorial e da visão remota para aplicação em operações de inteligência militar e defesa nacional”.
Documentos internos da CIA de 1972 revelam que o programa surgiu como uma estratégia sistemática para contrapor as alegadas capacidades psíquicas de adversários geopolíticos. Os registros destacavam a necessidade de uma abordagem científica e metodológica, combinando pesquisa teórica e prática, para “avaliar de forma abrangente o uso dessas habilidades em contextos operacionais”. O foco principal recaía sobre a visão remota (remote viewing), definida como a habilidade de descrever locais ou eventos distantes sem contato físico ou sensorial.
Evolução Operacional e Investimento
Entre 1972 e 1995, o projeto operou sob diversos codinomes, refletindo fases distintas: GONDOLA WISH (testes com agentes militares), SUN STREAK (após auditorias do Congresso em 1977) e GRILL FLAME (sob gestão do Exército a partir de 1978). O orçamento expandiu-se significativamente: de US$ 500.000 entre 1972-1979 (média anual de US$ 62.500) para US$ 1,2 milhão/ano na década de 1980 (gerido pela DIA) e, finalmente, US$ 2 milhões/ano entre 1991-1995, financiados pelo National Defense Authorization Act.
Um memorando de 1978 aponta que a maior parte dos recursos iniciais foram direcionados ao treinamento de indivíduos como Ingo Swann e Pat Price, considerados os remote viewers mais precisos. Testes duplo-cegos conduzidos pelo SRI relataram taxas de acerto acima do acaso em alvos específicos (Relatório Técnico SRI-78-1), embora críticos questionem a replicabilidade desses resultados.
Este artigo analisa a trajetória, técnicas e conclusões do Projeto Stargate com base exclusivamente em documentos desclassificados de agências como CIA, NSA e DIA.

2. Origens — início nos anos 1970 e principais figuras
As origens do Projeto Stargate estão ligadas a iniciativas de inteligência dos EUA que exploraram fenômenos psíquicos como ferramenta estratégica. Sua história remonta ao início da década de 1970, quando a CIA, em parceria com o Stanford Research Institute (SRI) na Califórnia, lançou o Projeto SCANATE. O objetivo era investigar a viabilidade de habilidades como a “visão remota” (remote viewing), uma técnica que supostamente permitia acessar informações distantes no espaço e no tempo.
Fase Acadêmica: SCANATE e os Pioneiros
Sob a liderança dos físicos Harold Puthoff e Russell Targ, o SRI desenvolveu protocolos científicos para testar a visão remota (designada RV-1). Entre os participantes estavam indivíduos considerados dotados de habilidades psíquicas, como Uri Geller, conhecido por suas capacidades de psicocinese, e outros nomes como Ingo Swann e Pat Price. Experimentos conduzidos na época alegaram resultados surpreendentes: documentos da CIA de 1986 destacam que testes com esses “sujeitos psíquicos” forneceram “informações detalhadas e precisas” sobre alvos estratégicos, como: Instalações secretas da NSA; Centros de pesquisa nuclear soviéticos em Semipalatinsk; Bases militares líbias; Embaixadas chinesas na África.
Esses resultados iniciais, embora debatidos, convenceram agências de que o tema merecia investigação contínua.
Transição para o Campo Militar (1977-1978)
Em 1977, o Exército dos EUA assumiu um papel central com o Projeto Gondola Wish, liderado pela unidade de inteligência INSCOM. O objetivo era explorar aplicações práticas da visão remota em operações militares. No entanto, em 1978, uma revisão institucional concluiu que esforços fragmentados (como o Gondola Wish) deveriam ser unificados. Surgiu então o Projeto Grill Flame, uma colaboração entre o Exército e a Agência de Inteligência de Defesa (DIA), sediada em Fort Meade, Maryland.
O Grill Flame operou até 1983, consolidando métodos e treinamento. Relatórios oficiais citam a criação de um “protocolo padrão de visão remota” por Puthoff e Targ em 1978, usado para instruir agentes. Figuras como Swann e Price tornaram-se referências no programa, descritos em documentos como “elementos-chave” devido à precisão de suas descrições.
Consolidação
Em meados dos anos 1980, o Projeto Stargate emergiu como sucessor direto do Grill Flame, sob coordenação da DIA. Sua estrutura integrou décadas de pesquisa, combinando rigor acadêmico (herdado do SRI) com demandas operacionais de inteligência. Características centrais do Stargate incluíam:
- Metodologia padronizada: Baseada nos manuais de Puthoff e Targ;
- Foco em inteligência: Alvos geopolíticos, como atividades soviéticas durante a Guerra Fria;
- Seletividade: Recrutamento de indivíduos com suposta aptidão psíquica, submetidos a treinamento intensivo.
3. Documentos oficiais — trechos de arquivos desclassificados
Os arquivos desclassificados da CIA, DIA e NSA revelam detalhes notáveis sobre o Stargate. Entre eles estão relatórios técnicos, transcrições de sessões e apresentações internas. A seguir, apresentamos alguns excertos representativos desses documentos, acompanhados de interpretação técnica:
- O próprio protocolo de treinamento aparece em documentos CIA internos. Por exemplo, o resumo de uma sessão de treinamento em 1978 (durante a fase inicial em SRI) descreve o procedimento: há um “monitor” que guia o “remote viewer” após entregar um conjunto de coordenadas codificadas. O relatório oficial anota que “o protocolo usado para esta sessão … está detalhado no documento Standard Remote-Viewing Protocol (Puthoff & Targ, 1978)” (cia.gov). Na transcrição anexa, percebe-se que o monitor pedia ao espectador mental que formasse uma imagem e descrevesse o alvo, com o intuito de acalmar sua mente. O relatório encerra confirmando: “esta sessão foi considerada muito bem-sucedida… o local do alvo tinha características que correspondiam às descrições do observador” (cia.gov). Esse trecho oficial evidencia que, pelo menos em treino, havia relatos de correlação entre visão remota e alvo real, o que motivava os participantes.
- Em contrapartida, outros documentos apontam falhas. Um exemplo é o sumário de sessão nº 898 (1982) no âmbito do programa Grill Flame. O relatório CIA anota: “a análise pós-sessão indica que o observador teve apenas alguma correlação” com o alvo; além disso, “a atitude do observador não foi positiva” (cia.gov). Em outras palavras, nem todos os exercícios produziram acertos claros. Assim, os próprios arquivos oficiais reconhecem que os resultados variaram em precisão e que fatores comportamentais dos participantes influenciaram o sucesso.
- Além de relatórios, há slides e apresentações internas. Uma apresentação intitulada “Sun Streak Activities Report 1986” (Saint Gate operado pela DIA) relata que “experimentos usando visão remota… conduzidos por dois físicos [do SRI] foram bem-sucedidos” (cia.gov). Um slide classificado detalha: “Usando vários sujeitos psíquicos dotados (como Pat Price e Ingo Swann), cientistas do SRI conduziram vários testes de visualização remota patrocinados pela CIA. As impressões psíquicas incluíram informações detalhadas e precisas sobre um local secreto da NSA, a instalação soviética em Semipalatinsk, bases de guerrilha na Líbia e uma embaixada chinesa na África” (cia.govcia.gov). Tais documentos reforçam que as agências pretendiam aliar técnica e controle rigoroso; por exemplo, os slides explicavam que cada sessão de CRV era um “processo de equipe” entre um monitor e um observador (cia.gov), e que o monitor apresentava coordenadas criptografadas ao observador, cujo sistema nervoso passivo reagia à “energia” do padrão mental (gestalt) correspondente ao alvo (cia.gov). O observador então desenhava um “ideograma” e dele seguia a descrição detalhada do local buscado. Esse procedimento aparece documentado em diagramas internos aprovados para liberação pela CIA (cia.gov).
- Um outro documento da NSA é ilustrativo do tipo de experimento realizado no início dos anos 1970: intitulado “Psychic Probe of the Planet Jupiter” (1973), descreve uma tentativa coordenada por Ingo Swann e o parapsicólogo Harold Sherman de obter por visão remota características do planeta Júpiter (cia.gov). Embora concluíssem que nenhum deles afirmava validade estatística nos resultados (“Neither Mr Sherman nor Mr Swann claim validity for their results” cia.gov), esse experimento indica o interesse inicial em testar limites, mesmo fora de alvos terrestres.
Em resumo, os documentos oficiais — relatórios de projeto, memorandos internos, transcrições de sessões e apresentações FOIA — dão base factual ao programa Stargate. Eles contêm trechos desclassificados que, quando analisados tecnicamente, confirmam a metodologia adotada (protocolos de visão remota), os resultados reivindicados (às vezes positivos, às vezes não conclusivos) e as conclusões das agências. Cada trecho citado acima provém de arquivos originais liberados pelo governo (por exemplo, CIA-RDP96), consultáveis no repositório FOIA, e legitima a narrativa técnica aqui apresentada.
4. Técnicas utilizadas — visão remota e Gateway Process
Os documentos do Projeto Stargate detalham técnicas de “visão remota” (remote viewing) e métodos de treinamento usados nos experimentos. A metodologia central foi a Coordinate Remote Viewing (CRV), desenvolvida no SRI. Esse protocolo envolvia um monitor (guia) e um visualizador (sujeito com suposta habilidade). O monitor fornecia um número ou coordenada codificada correspondente a um local (o “alvo”), enquanto o visualizador entrava em estado alterado de consciência para perceber intuitivamente o local visado (cia.govcia.gov). Internamente, slides do projeto explicam que, ao receber as coordenadas, o sistema nervoso autônomo do observador responde à “energia” do padrão mental do alvo e essa reação se expressa em um desenho rápido no papel — o chamado ideograma (cia.gov). A partir desse traço inicial, o visualizador faz descrições detalhadas em linguagem natural, anotando estruturas, emoções, sons ou outras impressões que “sentia” vindas do local distante.
O treinamento da equipe de visualizadores era rigoroso. Um documento cita que cada sessão era “um processo dinâmico de equipe” (cia.gov): o monitor mantinha o foco e o contexto, enquanto o observador gerava imagens mentais. O objetivo era manter um estado mental receptivo mas sem preconceito. O protocolo padrão (em tradução livre) ressalta: “Deve-se estabelecer a necessidade de descrever o alvo. Fornece-se o estímulo por uma palavra neutra… Depois o visualizador relatará o que se formou em sua mente” (cia.gov). (Essa descrição, em inglês original no manual, corresponde ao procedimento padronizado mencionado nos relatórios CIA.) Em relatórios oficiais de sessão, ao final eram feitas análises comparando o que o observador descreveu com fotografias do alvo real, para medir correlação. Em exemplos obtidos, certos alvos ambientais locais (como paisagens próximas do SRI) foram bem descritos pela vizualização, dando “feedback positivo” aos alunos (cia.gov).
Além da CRV tradicional, o Projeto Stargate avaliou técnicas complementares para expandir as capacidades mentais. Um destaque foi o Gateway Process, desenvolvido pelo Instituto Monroe. Relatório de 1983 da CIA (Análise do Gateway Process) descreve essa abordagem como o uso de sincronização hemisférica cerebral (o programa Monroe chamava “Gateway Experience”) para alcançar estados alterados de consciência profundos (cia.gov). Em termos técnicos, o Gateway usava áudios de batimentos binaurais (Hemi-Sync) e exercícios mentais para sincronizar os hemisférios cerebrais, facilitando meditações profundas ou experiências fora-do-corpo. O documento oficial explica que o Gateway combinava conceitos de hipnose, meditação transcendente e biofeedback para atingir esses estados (cia.gov). Embora não seja parte da metodologia diária de remote viewing, a CIA analisou o Gateway como uma possível forma de “acelerar” ou melhorar o treinamento psíquico. No relatório, o autor conclui que o Gateway oferece uma estrutura conceitual útil, mas reconhece que sua validade se manterá apenas após testes racionais mais rigorosos (cia.gov). Em suma, os oficiais consideravam o Gateway como uma ponte entre meditação e visão remota, apontando para a fronteira entre pesquisa de consciência e experimentação militar.
Assim, as técnicas usadas pelo Projeto Stargate foram multidisciplinares. O elemento principal era a visão remota coordenada, com protocolos formais extraídos de documentos de Puthoff/Targ (1978) e treinamentos controlados. Havia também investigações secundárias (como o Gateway Process) para explorar estados mentais avançados. Os documentos oficiais mostram preocupação em padronizar e documentar esses métodos sob critérios de inteligência — por exemplo, o treinamento enfatizava neutralidade do observador e documentação rigorosa de cada sessão (cia.gov, cia.gov). Ao mesmo tempo, estudos como o experimento Jupiter (cia.gov) e diversas sessões de teste demonstravam um esforço por “cientificizar” o incomum, buscando evidências objetivas mesmo em temas controversos.
5. Casos notórios — sessões psíquicas documentadas
Os arquivos liberados registram vários exemplos de sessões e experimentos, alguns com resultados registrados. Dentre os casos mais citados estão:
- Sessão de Treinamento nº1 (1978, SRI): Foi a primeira sessão oficial de RV em laboratório, usada para orientar o protocolo. O relatório resumido dessa sessão afirma que ela foi “considerada muito bem-sucedida por todos” cia.gov). Segundo o documento, “o local do alvo continha características que correspondiam às descrições do observador” (cia.gov). O trecho disponível mostra diálogo em que o observador é estimulado a formar uma imagem e começa a descrever um ambiente; na análise, nota-se que itens chave do cenário real coincidiram com o que ele relatou. Esse caso inicial ilustra como os pesquisadores consideraram promissoras as primeiras demonstrações de correlação entre mente e alvo.
- Sessão 898 (1982, Grill Flame): Na contramão do exemplo anterior, o relatório oficial dessa sessão revela apenas sucesso parcial. Nele se lê que, após análise, “o observador teve alguma correlação” com o alvo, mas que sua atitude “não foi positiva” (cia.gov). Ou seja, o observador registrou algumas pistas corretas, mas não de forma convincente. Esse documento mostra que nem todas as sessões produziram resultados claros. Técnicos internos destacam que fatores como o estado emocional do visualizador podem ter prejudicado a performance.
- Experimento “Júpiter” (1973, NSA/SRI): Em um experimento colaborativo, o parapsicólogo Harold Sherman e Ingo Swann conduziram, ao mesmo tempo em locais diferentes, uma “sondagem psíquica” do planeta Júpiter (cia.gov). Apesar das expectativas iniciais (o satélite Pioneer 10 estava enviando dados sobre Júpiter), ambos os participantes concluíram que não podiam validar cientificamente suas impressões. No relatório da NSA consta: “nem Sherman nem Swann afirmam validade para seus resultados, já que tal afirmação seria fora de propósito científico” (cia.gov). Este caso não teve um alvo terrestre tradicional, mas ficou registrado como um esforço emblemático de ir “além” do habitual.
- Outros relatórios mencionam atividades que, embora não totalmente abertos, são notórios. Por exemplo, trabalhos do CIA-NSA indicam uso de visualizadores em operações reais, como rastreamento remoto de alvos militares. Embora poucos detalhes oficiais tenham sido liberados, é sabido em documentos FOIA que alguns visualizadores foram recrutados para “tarefas de coleta de inteligência” sob supervisão militar. No entanto, os textos disponíveis focam mais em resultados genéricos do que em casos operacionais específicos.
Em linhas gerais, os casos documentados apresentam um misto: algumas sessões de treino produziram descrições coerentes do alvo, enquanto outras não alcançaram níveis confiáveis de informação. Os documentos citados acima são exemplos revelados oficialmente que ilustram a variabilidade dos resultados. Eles servem para entender os “frutos” práticos do programa, sempre com cautela crítica: em um manual de 1995, o relatório final da CIA ressalta que os dados obtidos eram frequentemente “vagos e ambíguos”, incapazes de gerar inteligência acionável (cia.gov). Apesar disso, durante duas décadas houve relatos — oficiais ou anecdóticos — de visualizadores relatando detalhes de instalações secretas que, a seu ver, jamais poderiam ser conhecidos por métodos convencionais. Esses casos notórios, extraídos dos arquivos, ajudaram a alimentar o debate interno sobre a credibilidade da psicotrabalho.
6. Avaliação e encerramento — conclusões oficiais e debates
O estágio final do Projeto Stargate culminou em avaliações formais e decisões de gestão. Documentos da CIA de 1995 revelam que, após análise intensiva, a alta administração determinou encerrar o programa. Conforme memorando interno, a principal recomendação foi justamente “encerrar as operações de visualização remota na comunidade de inteligência” e cessar “pesquisa e desenvolvimento relacionado à visualização remota”cia.govcia.gov. Essa decisão foi respaldada por um painel de especialistas contratado (American Institutes for Research) que concluiu que as informações remotas obtidas eram de qualidade insuficiente. O relatório observa que “permanece incerto se a existência de um fenômeno paranormal [visão remota] foi demonstrada” e que “os estudos laboratoriais não fornecem evidências sobre as fontes ou origens do fenômeno” (cia.gov). Tais conclusões refletem uma visão institucional crítica: segundo a CIA, os resultados eram inconsistentes e não provavam ser possível obter dados confiáveis de forma controlada.
Em contrapartida, havia vozes divergentes nos bastidores. Alguns defensores e participantes do programa relataram experiências positivas que supostamente validavam o método, sugerindo que era questão de calibrar melhor as técnicas ou os indivíduos. No entanto, a literatura oficial liberada não cita apoios externos ou argumentos favoráveis. A ênfase está nas análises estatísticas e na opinião dos especialistas independentes contratados. A visão oficial (da CIA/DIA) tornou-se pública via documentário e divulgação das conclusões em 1995: basicamente, o programa não havia produzido “informação de inteligência útil” (en.wikipedia.org). Críticos do projeto frequentemente usavam essa conclusão oficial para desacreditar a validade geral da visão remota, enquanto alguns entusiastas consideram que partes do programa simplesmente foram interpretadas de forma excessivamente cética.
Além disso, documentos recentes destacam que, até hoje, o governo continua a considerar o tema como de baixo risco. Um relatório interno da Diretoria de Inteligência da CIA, após avaliar programas russos contemporâneos em parapsicologia, concluiu que tais desenvolvimentos são “relativamente de baixa ameaça” e “prioridade baixa” em comparação a outras ameaças globais (cia.gov). Em linhas gerais, embora o projeto tenha sido oficialmente descontinuado, não houve declaração formal contrária à mera investigação científica da consciência humana; porém, a aplicação na inteligência foi considerada inviável após as análises dos anos 1990. Assim, o fim do Stargate foi fruto tanto de avaliação técnica quanto de uma mudança de prioridades após o fim da Guerra Fria.
7. Impacto atual — influência em ciência da consciência, psicologia e segurança
Após o encerramento oficial, o legado do Projeto Stargate continuou gerando interesse em diversas áreas. Na comunidade científica da consciência, a própria existência do programa estimulou estudos sobre percepção extra-sensorial e estado alterado de consciência — embora muitas vezes à margem das instituições oficiais. Por exemplo, o enfoque do Gateway Process em sincronizar ondas cerebrais inspirou pesquisas posteriores em neurociência sobre meditação e uso de ritmos binaurais para indução de relaxamento profundo. Artigos acadêmicos exploram hoje técnicas semelhantes em terapias de biofeedback e psicologia transpersonal. Adicionalmente, narrativas populares sobre experiências fora-do-corpo e fenômenos psíquicos frequentemente mencionam projetos militares, alimentando debate público sobre a interseção entre mente e tecnologia.
Na psicologia, o Stargate reforçou investigações sobre psiquismo e intuição, ainda que muitos psicólogos convencionais permaneçam céticos. Alguns centros de pesquisa independentes continuam realizando experimentos sob protocolos inspirados no SRI, tentando replicar ou refinar testes de visualização remota. Ainda que sem o respaldo oficial de agências de inteligência, essa linha de pesquisa foi legitimada em parte pelo fato de ter sido objeto de estudo governamental.
No âmbito da segurança nacional, o legado também é notório. Embora as conclusões da CIA tenham classificado a psicotrabalho como de baixa prioridade (cia.gov), a própria experiência do Stargate levou a comunidade de inteligência a refletir sobre os limites da coleta de informações. Elementos do projeto, como metodologias de análise qualitativa de cenários adversos, têm analogias em técnicas de previsão e análise de riscos modernos (por exemplo, brainstorming estruturado e cenários prospectivos). Além disso, o Programa Gateway às vezes é citado em debates sobre programas secretos, espionagem e a credibilidade do discurso oficial — servindo tanto de exemplo de investimento em conceitos extraordinários quanto de cautela quanto a conclusões precipitadas. Em suma, embora o Stargate não tenha se traduzido em operações ativas de espionagem, sua influência sobre a noção de que “tudo é possível” foi registrada em relatórios oficiais (que passaram a considerá-lo tema de baixo risco militar) cia.gov.
Hoje, arquivos desclassificados continuam sendo consultados por pesquisadores interessados na fronteira entre mente e tecnologia. O Stargate é frequentemente citado em estudos interdisciplinares de consciência, pois forneceu dados empíricos (mesmo que inconclusivos) sobre percepções não-usuais. A psicologia cognitiva e a ciência da mente observam que o projeto incentivou questionar o mecanismo do pensamento humano e suas relações com informações externas. No campo da inteligência, o Stargate tornou-se um caso de estudo clássico de como avaliar cientificamente reivindicações extraordinárias, influenciando diretrizes de rigor metodológico em novos programas (como a Iniciativa STIMULUS). Em resumo, o projeto deixou uma marca como experimento de grande escala sobre limites da percepção humana, hoje encarado como episódio histórico oficial — baseado em documentos públicos — que conecta debates sobre consciência, parapsicologia e utilidade militar.
8. Conclusão — mente, percepção e ciência oficial
O Projeto Stargate representa um capítulo inusitado na história da inteligência e da ciência. Por um lado, ele mostra que mesmo agências militares podem se interessar formalmente por fenômenos tidos como paranormais, dedicando recursos e pesquisas acadêmicas. Pelos documentos oficiais, fica claro que durante décadas havia uma esperança de uso prático, sustentada por alguns resultados iniciais promissores (cia.gov, cia.gov). Por outro lado, os próprios relatos desclassificados revelam a dificuldade de obter resultados consistentes. A expressão final das agências foi prudente: o método não provou ser confiável o suficiente para ser mantido em operação regular (cia.gov, cia.gov).
Em termos científicos, o Stargate suscitou reflexões sobre a capacidade da mente de acessar informações ocultas e sobre quais abordagens experimentais são válidas para investigar isso. O uso de protocolos formais e revisões externas (como o relatório da AIR) ilustrou um esforço de tratar a “ciência oficial” com rigor — e os insucessos atribuídos muitas vezes mais a falhas de método do que à impossibilidade a priori. Ainda assim, o simples reconhecimento oficial de tais pesquisas (e sua posterior liberação a público) reconhece que a interface entre mente e realidade continua sendo um tema de curiosidade e especulação que não pode ser completamente ignorado.
Por fim, a história do Stargate serve como um estudo de caso sobre ceticismo e abertura científica. A reflexão chave é que a busca por compreender a percepção humana em suas fronteiras — seja via visão remota ou outras técnicas — desafia tanto as crenças tradicionais quanto o método científico. O legado oficial do programa, hoje visível nos documentos liberados, é essencialmente neutro: mostra interesse, experimentação, dados inconclusivos e, por fim, precaução. Assim, o Projeto Stargate simboliza o esforço de tentar conciliar fenômenos mentais extraordinários com a pesquisa comprovada, um esforço que, embora encerrado, deixa questionamentos e lições sobre até onde a curiosidade humana pode ir e como a ciência convencional deve lidar com o desconhecido.
Fontes: Este artigo baseia-se exclusivamente em documentos desclassificados pelo governo dos EUA (CIA, DIA, NSA) sobre o Projeto Stargate, extraídos de repositórios oficiais. Citamos diretamente trechos de relatórios, memorandos e apresentações desses arquivos para fundamentar as informações acima (cia.gov cia.gov cia.gov cia.gov cia.gov), garantindo fidelidade aos dados originais.